sábado, 9 de janeiro de 2016

O pior cego, é aquele que não quer ver.

Cego, é aquele que não quer ver.


_è Mariana, nosso filho se tornou um rapaz bonito e forte não é mesmo?
_é sim Floriano, teve a quem puxar, seu pai era alto e forte, mas os olhos são iguais aos seus meu velho!
-ta passando da hora de se casar, eu na idade dele tinha uns três anos de casado.
_ três não, dois, não se lembra?
_é que o tempo passou rápido demais...
O casal guardou o porta retrato na estante, pois o rapaz não gostava de paparicos,
_ é você com seu machismo, estragou o menino.

Cláudio acaba de chegar do trabalho, antes de qualquer coisa pede a benção aos pais em seguida foi para o banho, tinha ainda alguns minutos para estudar antes de ir à faculdade.
É responsável e disciplinado, sempre faz questão de retribuir os gastos que os pais tiveram para criá-lo.
Sempre com boas notas desde o primário.
Ele andava de um lado para outro, parecia nervoso, o tapete do quarto ficou gasto de tanto andar e andar e não chegar a lugar algum.
Sentou-se na cama e suspirando o tempo todo. Deve estar com algum problema, mas, não tem com quem se abrir, muito reservado ao ter um pai
Mas isso tem sido assim de geração a geração, e com seu Floriano não seria diferente.
Hoje certamente não é o melhor dia para eu falar com eles. Resmungou por dentro  depois de não tirar nenhuma conclusão dos pensamentos.
_já vai meu filho, eu pensei que ia faltar á aula hoje, você tem um ar cansado, parece preocupado, posso te ajudar em alguma coisa?
_bem que eu queria, mas estou atrasado mamãe, fiquem com Deus!
_vá você com ele meu filho, vá você com ele...
As horas passaram e seus pais como sempre dormiram com a TV ligada, como se fossem duas crianças amontoadas no sofá da sala.
_mãe, pai, acordem, já é tarde.
_ que bom que chegou filho, estávamos esperando você e pegamos no sono, me desculpe.
_ que isso mãe, não precisava, vim direto para casa como todos os dias.
No fim de semana...
 Durante o café da manhã, Cláudio estava meio sem jeito e com poucas palavras.
A mãe percebeu e disfarçou bem, talvez fosse coisa de namorada.
Ele já não era nenhum adolescente, sabia muito bem se virar sozinho, mas ela só ia saber se perguntasse e à hora certa seria agora.
_Espere um pouco filho, vamos bater um papinho, depois do café tudo bem?
_claro_respondeu ansioso com voz trêmula.
Não, ele não terá coragem de enfrentá-la, mas...
A campanhinha tocou, era o Beto amigo de infância, iam jogar bola como todos os domingos.
_Tchau mãe, daqui a pouco eu volto.
Horas depois...
_eu reparei que você anda meio estranho, preocupado, é  trabalho, a faculdade ou namorada?
_senta aqui, vamos conversar, me sinto mal, não posso mentir, muito menos para a senhora, na verdade, e, eu, não sei como começar.
_que tal do começo meu filho.
_ eu não sou como o pai queria que eu fosse.
_como assim, não entendo...
_não me sinto bem fazendo veterinária, o que eu queria mesmo era fazer psicologia, eu gosto de ajudar as pessoas a se encontrarem, nem todo mundo tem uma família unida que nem a nossa, há pessoas sofrendo lá fora, no mundo.
_eu sei filho, mas onde você ta querendo chegar, vai trancar a matrícula de veterinária e fazer psicologia?
_ na verdade eu já fiz  omiti. _Me perdoa mamãe?
_ô meu filho, por que não contou a verdade antes para o seu pai, sabe como ele é, tem gênio forte, mas com jeitinho à gente fala com ele, pode deixar comigo, o que você não me pede chorando que eu não faço sorrindo. Eu te conheço, não é só isso que esta te aborrecendo, fale logo?
_mãe a senhora, sempre ficava do meu lado quando o pai estava bravo com alguma coisa que eu aprontava não é mesmo?
_claro, mas não enrola, vá direto ao assunto.
_Eu, eu, eu... Sou homossexual, pronto falei.
_ o quê? Eu não sei o que dizer.
A pobre mãe não sabia se chorava, ou se levantava as pernas tremiam como vara verde, não agüentou e uma lágrima desobediente correu em seu rosto sereno.
Choraram juntos em um abraço. 
No final da conversa ela disse uma frase que lhe tirou um sorriso forçado, amarelo.
“Vamos enfrentar juntos”
_ô mãe, obrigado, a senhora não existe.
_Mariana, Mariana, o que ta acontecendo?
 Por que os dois estão a tanto tempo cheio de segredinhos, isso não é coisa de macho em, eu é que tenho que conversar com ele, deixe-nos a sois.
_depois eu falo com ele mamãe, pode ir.
_não, é melhor esclarecermos agora, você já esperou demais para falar, isso acontece com qualquer pessoa e um dia ele vai ter que entender.
_ entender o quê mulher, fale logo?
_ele não esta mais fazendo veterinária, odeia cuidar de bois como você queria, ele gosta é de cuidar de pessoas que precisam de ajuda, psicologia.
_O quê.
_e tem mais, vou falar de uma vez, não aguento mais segurar esta barra sozinho.
EU SOU GAY.
_Mariana ele enlouqueceu de vez, tira esse menino da minha frente, se não vou fazer uma besteira, eu não tenho mais filho, desaparece da minha casa já!
_Pelo amor de Deus Floriano não faça isso.
_deixa mãe eu saio, tudo bem ele ta certo, a casa é dele.
O rapaz apanhou uma mochila com algumas roupas, se despediu da mãe que estava inconsolável e...
_e já vai tarde, eu não criei filho afeminado, o quê que eu fiz meu Deus para merecer isto!
 O quê que eu fiz!
Os dias se passaram...
Cláudio passou alguns dias em casa de amigos, mas alugou uma casa e teve o seu espaço, não como a casa da mamãe, mas era preciso.
Enquanto...
Naquela casa havia uma tristeza no ar, as refeições iam para as galinhas, o cachorro de mais ou menos 10 anos de tristeza nem latia mais.
E dona Mariana quanta angustiada, emagreceu coitadinha, como sofrem as mães.
Os dias já não eram os mesmos.
Uma vez seu Floriano muito angustiado saiu para tomar um ar, para passar o tempo, em casa estava inquieto e afobado.
Já era noite ele ainda vagava pelas ruas escuras sem rumo depois foi abordado por um cristão, que falou do amor eterno que Jesus sente por nós, é claro que o velho se recusou em acreditar que todos somos iguais, filhos do mesmo Deus, e ele é o juiz, o único certo e verdadeiro.
Seu Floriano saiu cabisbaixo resmungando deixando o homem falando sozinho, de repente...
Dois homens vieram em sua direção para assaltá-lo, como tantos idosos por aí em dia de pagamento, pois o velho tinha guardado no bolso todo o pagamento também..
O velho gritou por socorro mais de uma vez e foi lançado no paralelepípedo, por sorte apareceu um jovem que os enfrentou sozinho, graças aos golpes de caratê.
O pobre velho tinha escoriações no corpo e no rosto, perdeu os óculos ao cair passou a mão procurando a bengala  e não encontrou então...
Não se quer ouviu a voz do herói que lhe salvara a vida, mas, pôde segurar lhe a mão quando lhe foi devolvida a carteira.
O velho resmungão clamou abusando de mais um favor, dizendo que não poderia andar sozinho até sua casa, tinha as pernas bambas demais para andar sem a escora de madeira que ele negava em aceitar que era bengala que foi parar longe dali.
Durante a caminhada de três quarteirões, o velho reclamou que tivera um filho, mas que o tinha perdido fazia algum tempo. Mas o jovem nada respondia, talvez fosse mudo o pobre. O importante era que ambos estavam bem e seu Floriano não se deu conta de que já estava em frente o portão de casa.
_entre rapaz, tenho outro óculos de reserva, não sei como agradecer por me salvar a vida, por favor, entre que te darei uns trocados. O rapaz não queria receber nada pela ajuda, mas...
_Mariana, Mariana, acode aqui minha velha.
_ mas o que é isso aconteceu, onde você estava, e quem é este, minha nossa!_ Ela ficou surpresa ao ver o salvador do marido ferido.
Os degraus eram altos demais para alguém moribundo, ensanguentado e daquela idade subir sozinho, só havia uma maneira, ser carregado...
_ô como Deus é bom, você é forte em! E apareceu na hora certa, me põe aqui no sofá, nesse não rapaz, naquele, por favor, prefiro aquele sofá.  Ô velho espaçoso
_Mariana, já achou os óculos, ta na segunda gaveta do criado mudo. Assim que colocou os óculos percebeu os olhos molhados da esposa e a abraçou, de alegria por estarem juntos novamente.
_confesso que tive medo de não vê-la de novo minha velha, eu teria morrido e o quê seria de mim... O quê seria de mim...
  Depois do caloroso abraço dos anciões, quis apresentá-la ao rapaz e viu claramente, era o seu filho, o seu único filho.
 Seu Floriano chorou como nunca na vida inteira, vivia dizendo que homens não choram, mas, desta vez foi pego de calças curtas, de surpresa e caiu em prantos...
_não entendo, como isso aconteceu comigo, meu filho!
_nem eu Mariana eu pensava que estes homens afeminados, se vestiam como mulheres, mas você é um homem normal e forte como o seu avô e por que não falou comigo para que eu reconhecesse a sua voz.
_meu velho, não se lembra, você mesmo pediu que nunca mais lhe dirigisse a palavra e para você, o nosso único filho estava morto!
_ me perdoa pai, mais uma vez?
_ eu é que devo lhe pedir perdão meu filho, por te-lo julgado sem saber dos seus sentimentos, como sofreu sozinho nesta vida dura lá fora.
E digo mais, assim dizia o meu pai, “o pior cego, é aquele que não quer ver”.
É filho a vida da rasteira na gente...Tenho que engolir meu orgulho.
“Um homem não deixa de ser homem pelo que veste ou deixa de vestir e sim pelas suas atitudes benéficas pelo próximo, você é um bom rapaz filho”.
Sentimos muito a sua falta, por favor, volte para casa.
Reconheço que é difícil demais para nós nesta idade viver sem você.
Da aqui um abraço filhão!
Os três se abraçaram chorando, desta vez de alegria.
Eles não sabiam que Cláudio nunca se afastou totalmente, morava do outro lado da rua, mas trabalhava o tempo todo e sempre discreto, ninguém sabia nada da vida dele.
Dia sim dia não colocava uma rosa para sua mãe na janela, ela sempre soube que ele é quem trazia a misteriosa rosa.
Colocava também o jornal do dia, todas as manhãs na varanda.
E o pai dele pensando que era uma assinatura antiga de um jornal que sem renovar entregavam por engano achou melhor acomodar-se.
Na noite do assalto, Cláudio sentiu um aperto no coração, estava afadigado, temia que algo de ruim acontecesse a seus pais   de idade avançada.
Saiu às pressas do trabalho desesperado não pensou duas vezes, passou por atalhos e vielas desconhecidas na esperança de chegar o mais rápido que podia em casa quando ouviu um pedido de socorro, jamais pensaria quem era muito menos seu pai e ainda assim salvaria qualquer pessoa desconhecida.
Os dias se passaram...
Seu Floriano preocupado ficava um bom tempo na varanda pensando nas palavras daquele homem que lhe falou do amor de Deus no dia do assalto e caiu em si, se todos são iguais, aos olhos do criador era hora de rever valores...
Em não se questionar em que errou para ter um filho assim ou assado, e sim reconquistar a confiança e o amor daquele único filho.
Convidou a esposa para fazer visita em uma igreja cristã, apesar de odiar os crentes, sentiu vontade de procurar ajuda não uma ajuda profissional de pisicologo ou psiquiatra e sim ajuda espiritual.
O homem que evangelizava ali naquele momento, tinha falado de um amor desinteressado e gratuito que protegia e vinha de Deus.
Como ajudar o filho se o mesmo precisava de ajuda, então diariamente iam aos cultos e se sentiam cada vez diferentes, renovados até se passarem pelas águas e serem batizados.
Desta vez quem fez o convite ao filho, foi à mãe, com um coração de ouro abençoado por Deus, ele jamais diria não se a palavra dela era lei.
O batismo foi à coisa mais linda que ele já tinha visto, e mais bonito que um casamento, por ser diferente, um casamento com Deus.
E a partir dali o passado seria morto e enterrado, uma vida nova começava naquela casa e para ser completa faltava o filho do casal se tornar um verdadeiro membro.
Na verdade os membros da igreja o excluíam simplesmente pelo seu modo de ser, na verdade preocupavam apenas com a língua do povo.
 Na hora de cumprimentar os irmãos no final do culto se esquivavam claramente do coitado que nada fizera para magoar ou envergonhar ninguém, pelo contrario era mais humano que muitos que se diziam crentes de verdade.
Pois nunca tratou ninguém com indiferença.
Ajudava qualquer pessoa independente da cor, da aparência e da conta bancaria, ele via as pessoas por dentro, como poucas pessoas podiam ver.
Ele era uma pessoa escolhida por Deus a dedo, estava escrito que aquela denominação ganharia um novo membro, não apenas mais um membro como os outros e sim um que fazia a diferença em tudo.
 Cada pessoa é única, verdadeira aos olhos do pai e quem somos nós para excluir-mos alguém, ignorar-mos alguém que esta na nossa frente.
Diferenças estas que são julgadas pelo juiz e cada um é responsável pelo próprio julgamento individual e começa a ser julgado a partir das atitudes de cada um...
Pecado, para Deus não existe pecado grande ou pequeno.
Pecado é pecado de qualquer jeito...
Todos pecam, mas se cada cuidar de livrar-se dos próprios pecados diários estará fazendo algo a si mesmo.
Cada um deve se olhar no espelho antes de julgar alguém, pois sujo é aquele que tem mente poluída, egoísta.
É hipócrita se não consegue pensar no outro com amor ou ternura, talvez não merecesse o perdão de Deus e ele sim, perdoa e anota quantas vezes e por qual motivo...
Chegará um dia em que esse tempo terminara e junto à chance de ser novamente perdoado.
 Cuide da sua vida e ame o próximo do jeito que ele é.
Por Deus, Cláudio reencontrou um amigo na mesma igreja que freqüentara mesmo contra a vontade dos membros e através dele, o único que se aproximou como um verdadeiro cristão mostrou a todos o que é ser um cristão de caráter.
Cristão de caráter é aquele que, é merecedor do verdadeiro amor de Deus sem nada questionar.
O amigo teve naquela noite teve a oportunidade de falar algo escolheu um versículo e por obra divina veio um especial para os que se identificassem e corrigisse enquanto há tempo.  
Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu... Eclesiastes (3:1)
Mas nenhum homem pode domar a língua.
É um mal que não se pode refrear, está cheia de peçonha mortal. Tiago (3:8)
A moral da história:
Por dentro todo mundo é igual. Pele, roupa não tem nada a ver com o caráter, o que importa para Deus é o conteúdo e só ele pode fazer a reforma dentro do ser humano tosco de sabedoria este sim é um pobre coitado...
Que Deus tenha misericórdia da sua alma.

                                                                                                             Mayala Morenna






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