Simplesmente Maria
Maria
A mais doce, a mais bela e a mais
extrovertida.
Chorar, pouquíssimas
vezes,Mas sorrir sempre...
De simples não
tinha nada, era a mais especial de todas as pessoas.
Encantava a
todos com seu carisma, sua alegria de viver era contagiante, difícil era ficar
sério perto dela.
Não conhecia
outra palavra em sua vida que não incluísse dividir e ajudar. Chato mesmo para
ela, era estar sozinha, comer sozinha e por isso nunca ficava só.
Estava sempre
cercada de muitos amigos.
“Amigos” estes
que ela nunca deixou na mão, e fazia o que estivesse ao seu alcance
desinteressadamente.
Quantos Deus
lhe pague ela ouviu a vida inteira e sorriu agradecida, era a melhor forma de pagamento que
gostava de receber.
A família sempre em primeiro lugar, fazia das tripas coração
para ver alguém feliz, mesmo que isso calsasse danos financeiros que virariam
uma bola de neve, mas se desdobrava inteira e mantinha seu nome intacto na praça.
Com muito
sacrifício criou quatro filhos, ensinou tudo que sabia a ressalvar e direitos e deveres.
E se orgulhava
em olhar para trás e ver que o tempo havia passado tão rápido e eles tinham se
tornado pessoas de bem, ela não poderia esperar outra coisa, se não uma boa índole.
Na verdade
todos sabem que caráter não tem nada a ver com pobreza, vem de berço e de
geração a geração.
Seu anjo da
guarda era protetor dos animais, e ai de quem maltratasse um animalzinho na
presença dela, ai, ai, ai.
Inúmeras vezes
trouxeram um cão abandonado para casa e infligia à lei trazendo o dentro do
ônibus, sem saber se quer se seria atacada por um cão desconhecido e não se
arrependia, pelo contrario, era mais um novo morador, tanto faz gatos quanto
cachorros.
Tinha um gato
que lhe estendia as patas pedindo abraço.
E uma
cadelinha de dez anos que era amada como filha, deitava em seu colo e ficava
quietinha como se fosse gente, e jamais ficara presa como qualquer outro cão,
se a prendesse certamente morreria.
Certa vez, ela
trabalhava vendendo seus deliciosos salgados na estação de metrô São Gabriel BH. Observou
que nas margens do rio do onça havia um aglomerado de pessoas, inclusive o
corpo de bombeiros. Como qualquer pessoa curiosa, guardou seus pertences e foi
até lá, mas se surpreendeu ao ver que ao invés de uma pessoa era um cachorro
que estava prestes a morrer afogado em cima de uma pedra e os bombeiros não
salvaria um cão vira-lata, a não ser que alguém se habilitasse a adotá-lo.
Imediatamente ela gritou que queria o pobre cão, mas que iria primeiro em outro
lugar pagar uma conta com o dinheiro das vendas de salgados daquele dia. Deu a
sua palavra que voltaria para apanhá-lo, deu o numero do telefone e assim fez. Retornando
o mais rápido que pôde com muita correria, problemas de saúde e obesidade não
foram empecilhos para que mudasse de idéia.
Com muito
carinho acariciou o cachorro e por sorte havia sobrado 3 salgados embora ela
mesma não tivesse comido nenhum, apesar da ordem médica de comer de três em
três horas pela diabete não pensou duas vezes e deu os 3 salgados para o pobre
cão que ganhou um nome e um lar. ”Tafaréu”
Depois disso
uma cadela pretinha, a visitava todos os dias no ponto de sempre, só para
ganhar um salgado, estava viciada, era exatamente igual em todos os dias até
que um dia...
Pretinha que a
acompanhara até a porta do ônibus não agüentou e ficou olhando com os olhinhos
caídos, pedindo ajuda, dona Maria não
conseguiu deixa-la para trás e mais uma vez levou um vira-lata para casa com
muita satisfação, era como se ela ganhasse um premio.
Mas para a surpresa de dona Maria, a cadela esperava filhotes.
Com o passar
dos dias era a hora de dar a luz, como sofria a pobre cachorrinha e junto com
ela sofria dona Maria que por sua
vez não agüentou ver a pobrezinha naquela situação a levando imediatamente ao
veterinário. Fizeram lhe uma cesariana, foi salvar a vida dos filhotes estavam
mortos, porém pretinha se salvou para o alivio de dona Maria.
Que a estas
alturas pensava como pagar o veterinário daqui a 30 dias no cartão de
terceiros. Para ela o importante era salvar a vida de pretinha em primeiro lugar, o resto era o resto.
Aliviada por
tudo correr bem ela foi para casa, apesar de algumas pessoas descriminarem a
sua atitude de fazer uma divida por um cão vira-lata ainda mais, desconhecido.
Para dona
Maria, não existia raça de cachorro, existe apenas ser vivo e pretinha era um deles...
Era mais ou
menos sete da noite quando deu alta e trouxeram lhe a cadelinha moribunda com
uma faixa na barriga, era cedo para trazerem, mas foi recebida com carinho.
Antes mesmo de
meia noite do mesmo dia a pobrezinha morrera para a tristeza de dona Maria que mais uma vez chorou.
Ainda assim
não se arrependeu, e mais uma vez fez a sua parte...
Somente dona Maria para nunca negar um prato de
comida ou um café a qualquer pessoa, e fazer amizade era com ela mesma.
Mas agora os
dias passaram a ser mais escuros, e a noite ganhou um brilho especial com mais
uma estrela.
Simplesmente
por que dona Maria nos deixou às dezessete horas do dia vinte nove dezembro de
2009.
Para
a tristeza de muitos e o total desespero da família, dona Maria que com apenas 55 anos, cumpriu sua meta, fez sua passagem
pela terra e fez muito bem feita a sua missão. Plantou somente coisas boas e
colheu amor e amizade por lugares espalhados em cada pedacinho do Brasil por
onde passou principalmente na cidade natal Ipanema MG...
Estendeu a mão
para dividir o pouco que tinha que para ela se tornava muito, tudo dobrava
diante do milagre da multiplicação e da boa vontade que vinha de dentro do
coração do tamanho do mundo.
Mas nem tudo está perdido, dona Maria foi escolhida a dedo para fazer
parte do jardim celestial. Como a flor faltosa, a dourada em ouro de todos os
quilates, que ofuscariam olhos humanos despreparados.
Seu espírito
subiu, foi se encontrar com Deus e se juntar as outras rosas douradas, as
outras mães...
Lá não existem
dores, maus-tratos, discórdia, miséria, ódio, tristeza.
E juntos estão
crianças, velhos e adultos.
Há cães e outros bichos inofensivos correndo
por todos os lados.
E lá.
O espaço só é garantido
quando se sabe perdoar quantas vezes fosse preciso, como dona Maria...
Corações e
corações ficaram partidos naquele dia, lágrimas foram derramadas, era preciso.
Os anjos do
céu precisavam da presença de Maria.
O céu chorou
com uma chuva forte avassaladora ao mesmo tempo em que o sol brilhou e como num
passe de mágica o dia ficou lindo.
Centenas e
centenas de amigos acompanharam o cortejo no exato momento em que ela era recebida
por milhares de anjos vestidos de branco que a acolheram com o abraço coletivo
mais esperado.
E ela
sorriu...
E de lá pode
ver o quanto cada pessoa era especial para ela, por isso ainda na terra, mesmo
com os olhos fechados por dormir e acordar no paraíso tinha um ar puro e sereno.
É assim que estava no momento em que chegara aos braços do pai...
Deixou marido,
quatro filhos, quatorze netos e bisnetos, dois genros, e duas
noras, que a amavam incondicionalmente....
Ela deixou muita saudade
Mayala Morenna