Cego, é aquele que
não quer ver.
_è Mariana, nosso filho se tornou
um rapaz bonito e forte não é mesmo?
_é sim Floriano, teve a quem puxar,
seu pai era alto e forte, mas os olhos são iguais aos seus meu velho!
-ta passando da hora de se casar, eu
na idade dele tinha uns três anos de casado.
_ três não, dois, não se lembra?
_é que o tempo passou rápido demais...
O casal guardou o porta retrato na
estante, pois o rapaz não gostava de paparicos,
_ é você com seu machismo, estragou o
menino.
Cláudio acaba de chegar do
trabalho, antes de qualquer coisa pede a benção aos pais em seguida foi para o banho,
tinha ainda alguns minutos para estudar antes de ir à faculdade.
É responsável e disciplinado,
sempre faz questão de retribuir os gastos que os pais tiveram para criá-lo.
Sempre com boas notas desde o
primário.
Ele andava de um lado para outro,
parecia nervoso, o tapete do quarto ficou gasto de tanto andar e andar e não
chegar a lugar algum.
Sentou-se na cama e suspirando o
tempo todo. Deve estar com algum problema, mas, não tem com quem se abrir,
muito reservado ao ter um pai
Mas isso tem sido assim de
geração a geração, e com seu Floriano não seria diferente.
Hoje certamente não é o melhor dia
para eu falar com eles. Resmungou por dentro depois de não tirar nenhuma conclusão dos
pensamentos.
_já vai meu filho, eu pensei que
ia faltar á aula hoje, você tem um ar cansado, parece preocupado, posso te
ajudar em alguma coisa?
_bem que eu queria, mas estou
atrasado mamãe, fiquem com Deus!
_vá você com ele meu filho, vá
você com ele...
As horas passaram e seus pais
como sempre dormiram com a TV ligada, como se fossem duas crianças amontoadas
no sofá da sala.
_mãe, pai, acordem, já é tarde.
_ que bom que chegou filho,
estávamos esperando você e pegamos no sono, me desculpe.
_ que isso mãe, não precisava, vim
direto para casa como todos os dias.
Durante o café da manhã, Cláudio estava meio
sem jeito e com poucas palavras.
A mãe percebeu e disfarçou bem,
talvez fosse coisa de namorada.
Ele já não era nenhum adolescente,
sabia muito bem se virar sozinho, mas ela só ia saber se perguntasse e à hora
certa seria agora.
_Espere um pouco filho, vamos
bater um papinho, depois do café tudo bem?
_claro_respondeu ansioso com voz trêmula.
Não, ele não terá coragem de
enfrentá-la, mas...
A campanhinha tocou, era o Beto
amigo de infância, iam jogar bola como todos os domingos.
_Tchau mãe, daqui a pouco eu volto.
_eu reparei que você anda meio
estranho, preocupado, é trabalho, a
faculdade ou namorada?
_senta aqui, vamos conversar, me
sinto mal, não posso mentir, muito menos para a senhora, na verdade, e, eu, não
sei como começar.
_que tal do começo meu filho.
_ eu não sou como o pai queria que eu
fosse.
_como assim, não entendo...
_não me sinto bem fazendo
veterinária, o que eu queria mesmo era fazer psicologia, eu gosto de ajudar as
pessoas a se encontrarem, nem todo mundo tem uma família unida que nem a nossa,
há pessoas sofrendo lá fora, no mundo.
_eu sei filho, mas onde você ta
querendo chegar, vai trancar a matrícula de veterinária e fazer psicologia?
_ na verdade eu já fiz omiti. _Me perdoa mamãe?
_ô meu filho, por que não contou
a verdade antes para o seu pai, sabe como ele é, tem gênio forte, mas com jeitinho
à gente fala com ele, pode deixar comigo, o que você não me pede chorando que
eu não faço sorrindo. Eu te conheço, não é só isso que esta te aborrecendo,
fale logo?
_mãe a senhora, sempre ficava do
meu lado quando o pai estava bravo com alguma coisa que eu aprontava não é
mesmo?
_claro, mas não enrola, vá direto ao
assunto.
_Eu, eu, eu... Sou homossexual,
pronto falei.
_ o quê? Eu não sei o que dizer.
A pobre mãe não sabia se chorava,
ou se levantava as pernas tremiam como vara verde, não agüentou e uma lágrima
desobediente correu em seu rosto sereno.
Choraram juntos em um abraço.
No final da conversa ela disse
uma frase que lhe tirou um sorriso forçado, amarelo.
_ô mãe, obrigado, a senhora não
existe.
_Mariana, Mariana, o que ta
acontecendo?
Por que os dois estão a tanto tempo cheio de
segredinhos, isso não é coisa de macho em, eu é que tenho que conversar com ele,
deixe-nos a sois.
_depois eu falo com ele mamãe,
pode ir.
_não, é melhor esclarecermos
agora, você já esperou demais para falar, isso acontece com qualquer pessoa e um
dia ele vai ter que entender.
_ entender o quê mulher, fale
logo?
_ele não esta mais fazendo
veterinária, odeia cuidar de bois como você queria, ele gosta é de cuidar de
pessoas que precisam de ajuda, psicologia.
_e tem mais, vou falar de uma vez,
não aguento mais segurar esta barra sozinho.
_Mariana ele enlouqueceu de vez,
tira esse menino da minha frente, se não vou fazer uma besteira, eu não tenho
mais filho, desaparece da minha casa já!
_Pelo amor de Deus Floriano não faça
isso.
_deixa mãe eu saio, tudo bem ele ta
certo, a casa é dele.
O rapaz apanhou uma mochila com algumas
roupas, se despediu da mãe que estava inconsolável e...
_e já vai tarde, eu não criei
filho afeminado, o quê que eu fiz meu Deus para merecer isto!
Cláudio passou alguns dias em
casa de amigos, mas alugou uma casa e teve o seu espaço, não como a casa da
mamãe, mas era preciso.
Naquela casa havia uma tristeza
no ar, as refeições iam para as galinhas, o cachorro de mais ou menos 10 anos
de tristeza nem latia mais.
E dona Mariana quanta angustiada,
emagreceu coitadinha, como sofrem as mães.
Os dias já não eram os mesmos.
Uma vez seu Floriano muito
angustiado saiu para tomar um ar, para passar o tempo, em casa estava inquieto
e afobado.
Já era noite ele ainda vagava
pelas ruas escuras sem rumo depois foi abordado por um cristão, que falou do
amor eterno que Jesus sente por nós, é claro que o velho se recusou em
acreditar que todos somos iguais, filhos do mesmo Deus, e ele é o juiz, o único
certo e verdadeiro.
Seu Floriano saiu cabisbaixo
resmungando deixando o homem falando sozinho, de repente...
Dois homens vieram em sua direção
para assaltá-lo, como tantos idosos por aí em dia de pagamento, pois o velho
tinha guardado no bolso todo o pagamento também..
O velho gritou por socorro mais
de uma vez e foi lançado no paralelepípedo, por sorte apareceu um jovem que os enfrentou
sozinho, graças aos golpes de caratê.
O pobre velho tinha escoriações
no corpo e no rosto, perdeu os óculos ao cair passou a mão procurando a bengala
e não encontrou então...
Não se quer ouviu a voz do herói
que lhe salvara a vida, mas, pôde segurar lhe a mão quando lhe foi devolvida a carteira.
O velho resmungão clamou abusando
de mais um favor, dizendo que não poderia andar sozinho até sua casa, tinha as
pernas bambas demais para andar sem a escora de madeira que ele negava em
aceitar que era bengala que foi parar longe dali.
Durante a caminhada de três
quarteirões, o velho reclamou que tivera um filho, mas que o tinha perdido
fazia algum tempo. Mas o jovem nada respondia, talvez fosse mudo o pobre. O
importante era que ambos estavam bem e seu Floriano não se deu conta de que já
estava em frente o portão de casa.
_entre rapaz, tenho outro óculos
de reserva, não sei como agradecer por me salvar a vida, por favor, entre que
te darei uns trocados. O rapaz não queria receber nada pela ajuda, mas...
_Mariana, Mariana, acode aqui
minha velha.
_ mas o que é isso aconteceu,
onde você estava, e quem é este, minha nossa!_ Ela ficou surpresa ao ver o
salvador do marido ferido.
Os degraus eram altos demais para
alguém moribundo, ensanguentado e daquela idade subir sozinho, só havia uma
maneira, ser carregado...
_ô como Deus é bom, você é forte
em! E apareceu na hora certa, me põe aqui no sofá, nesse não rapaz, naquele,
por favor, prefiro aquele sofá. Ô velho
espaçoso
_Mariana, já achou os óculos, ta
na segunda gaveta do criado mudo. Assim que colocou os óculos percebeu os olhos
molhados da esposa e a abraçou, de alegria por estarem juntos novamente.
_confesso que tive medo de não
vê-la de novo minha velha, eu teria morrido e o quê seria de mim... O quê seria
de mim...
Depois
do caloroso abraço dos anciões, quis apresentá-la ao rapaz e viu claramente,
era o seu filho, o seu único filho.
Seu Floriano chorou como nunca na vida inteira,
vivia dizendo que homens não choram, mas, desta vez foi pego de calças curtas,
de surpresa e caiu em prantos...
_não entendo, como isso aconteceu
comigo, meu filho!
_nem eu Mariana eu pensava que
estes homens afeminados, se vestiam como mulheres, mas você é um homem normal e
forte como o seu avô e por que não falou comigo para que eu reconhecesse a sua
voz.
_meu velho, não se lembra, você
mesmo pediu que nunca mais lhe dirigisse a palavra e para você, o nosso único
filho estava morto!
_ me perdoa pai, mais uma vez?
_ eu é que devo lhe pedir perdão
meu filho, por te-lo julgado sem saber dos seus sentimentos, como sofreu sozinho
nesta vida dura lá fora.
E digo mais, assim dizia o meu
pai, “o pior cego, é aquele que não quer ver”.
É filho a vida da rasteira na
gente...Tenho que engolir meu orgulho.
“Um homem não deixa de ser homem
pelo que veste ou deixa de vestir e sim pelas suas atitudes benéficas pelo
próximo, você é um bom rapaz filho”.
Sentimos muito a sua falta, por
favor, volte para casa.
Reconheço que é difícil demais
para nós nesta idade viver sem você.
Da aqui um abraço filhão!
Os três se abraçaram chorando, desta
vez de alegria.
Eles não sabiam que Cláudio nunca
se afastou totalmente, morava do outro lado da rua, mas trabalhava o tempo
todo e sempre discreto, ninguém sabia nada da vida dele.
Dia sim dia não colocava uma rosa
para sua mãe na janela, ela sempre soube que ele é quem trazia a misteriosa
rosa.
Colocava também o jornal do dia,
todas as manhãs na varanda.
E o pai dele pensando que era uma
assinatura antiga de um jornal que sem renovar entregavam por engano achou melhor
acomodar-se.
Na noite do assalto, Cláudio sentiu
um aperto no coração, estava afadigado, temia que algo de ruim acontecesse a
seus pais já de idade avançada.
Saiu às pressas do trabalho desesperado
não pensou duas vezes, passou por atalhos e vielas desconhecidas na esperança
de chegar o mais rápido que podia em casa quando ouviu um pedido de socorro,
jamais pensaria quem era muito menos seu pai e ainda assim salvaria qualquer pessoa
desconhecida.
Seu Floriano preocupado ficava um
bom tempo na varanda pensando nas palavras daquele homem que lhe falou do amor
de Deus no dia do assalto e caiu em si, se todos são iguais, aos olhos do
criador era hora de rever valores...
Em não se questionar em que errou
para ter um filho assim ou assado, e sim reconquistar a confiança e o amor
daquele único filho.
Convidou a esposa para fazer
visita em uma igreja cristã, apesar de odiar os crentes, sentiu vontade de
procurar ajuda não uma ajuda profissional de pisicologo ou psiquiatra e sim
ajuda espiritual.
O homem que evangelizava ali
naquele momento, tinha falado de um amor desinteressado e gratuito que protegia
e vinha de Deus.
Como ajudar o filho se o mesmo
precisava de ajuda, então diariamente iam aos cultos e se sentiam cada vez diferentes,
renovados até se passarem pelas águas e serem batizados.
Desta vez quem fez o convite ao
filho, foi à mãe, com um coração de ouro abençoado por Deus, ele jamais diria
não se a palavra dela era lei.
O batismo foi à coisa mais linda
que ele já tinha visto, e mais bonito que um casamento, por ser diferente, um
casamento com Deus.
E a partir dali o passado seria
morto e enterrado, uma vida nova começava naquela casa e para ser completa
faltava o filho do casal se tornar um verdadeiro membro.
Na verdade os membros da igreja o
excluíam simplesmente pelo seu modo de ser, na verdade preocupavam apenas com a
língua do povo.
Na hora de cumprimentar os irmãos no final do
culto se esquivavam claramente do coitado que nada fizera para magoar ou
envergonhar ninguém, pelo contrario era mais humano que muitos que se diziam
crentes de verdade.
Pois nunca tratou ninguém com
indiferença.
Ajudava qualquer pessoa
independente da cor, da aparência e da conta bancaria, ele via as pessoas por
dentro, como poucas pessoas podiam ver.
Ele era uma pessoa escolhida por
Deus a dedo, estava escrito que aquela denominação ganharia um novo membro, não
apenas mais um membro como os outros e sim um que fazia a diferença em tudo.
Cada pessoa é única, verdadeira aos olhos do
pai e quem somos nós para excluir-mos alguém, ignorar-mos alguém que esta na
nossa frente.
Diferenças estas que são julgadas
pelo juiz e cada um é responsável pelo próprio julgamento individual e começa a
ser julgado a partir das atitudes de cada um...
Pecado, para Deus não existe
pecado grande ou pequeno.
Pecado é pecado de qualquer
jeito...
Todos pecam, mas se cada cuidar
de livrar-se dos próprios pecados diários estará fazendo algo a si mesmo.
Cada um deve se olhar no espelho
antes de julgar alguém, pois sujo é aquele que tem mente poluída, egoísta.
É hipócrita se não consegue
pensar no outro com amor ou ternura, talvez não merecesse o perdão de Deus e
ele sim, perdoa e anota quantas vezes e por qual motivo...
Chegará um dia em que esse tempo
terminara e junto à chance de ser novamente perdoado.
Cuide da sua vida e ame o próximo do jeito que
ele é.
Por Deus, Cláudio reencontrou um
amigo na mesma igreja que freqüentara mesmo contra a vontade dos membros e
através dele, o único que se aproximou como um verdadeiro cristão mostrou a
todos o que é ser um cristão de caráter.
Cristão de caráter é aquele que,
é merecedor do verdadeiro amor de Deus sem nada questionar.
O amigo teve naquela noite teve a
oportunidade de falar algo escolheu um versículo e por obra divina veio um
especial para os que se identificassem e corrigisse enquanto há tempo.
Tudo tem o seu tempo determinado,
e há tempo para todo o propósito debaixo do céu... Eclesiastes (3:1)
Mas nenhum homem pode domar a
língua.
É um mal que não se pode refrear,
está cheia de peçonha mortal. Tiago (3:8)
Por dentro todo mundo é igual. Pele,
roupa não tem nada a ver com o caráter, o que importa para Deus é o conteúdo e
só ele pode fazer a reforma dentro do ser humano tosco de sabedoria este sim é
um pobre coitado...
Que Deus tenha misericórdia da
sua alma.