domingo, 2 de setembro de 2012

Simplesmente Maria


Simplesmente Maria

Maria
A mais doce, a mais bela e a mais extrovertida.
Chorar, pouquíssimas vezes,Mas sorrir sempre...
De simples não tinha nada, era a mais especial de todas as pessoas.
Encantava a todos com seu carisma, sua alegria de viver era contagiante, difícil era ficar sério perto dela.
Não conhecia outra palavra em sua vida que não incluísse dividir e ajudar. Chato mesmo para ela, era estar sozinha, comer sozinha e por isso nunca ficava só.
Estava sempre cercada de muitos amigos.
“Amigos” estes que ela nunca deixou na mão, e fazia o que estivesse ao seu alcance desinteressadamente.
Quantos Deus lhe pague ela ouviu a vida inteira e sorriu agradecida, era a melhor forma de pagamento que gostava de receber.
A família sempre em primeiro lugar, fazia das tripas coração para ver alguém feliz, mesmo que isso calsasse danos financeiros que virariam uma bola de neve, mas se desdobrava inteira e mantinha seu nome intacto na praça.
Com muito sacrifício criou quatro filhos, ensinou tudo que sabia a ressalvar  e direitos e deveres.
E se orgulhava em olhar para trás e ver que o tempo havia passado tão rápido e eles tinham se tornado pessoas de bem, ela não poderia esperar outra coisa, se não uma boa índole.
Na verdade todos sabem que caráter não tem nada a ver com pobreza, vem de berço e de geração a geração.
Seu anjo da guarda era protetor dos animais, e ai de quem maltratasse um animalzinho na presença dela, ai, ai, ai.
Inúmeras vezes trouxeram um cão abandonado para casa e infligia à lei trazendo o dentro do ônibus, sem saber se quer se seria atacada por um cão desconhecido e não se arrependia, pelo contrario, era mais um novo morador, tanto faz gatos quanto cachorros.
Tinha um gato que lhe estendia as patas pedindo abraço.
E uma cadelinha de dez anos que era amada como filha, deitava em seu colo e ficava quietinha como se fosse gente, e jamais ficara presa como qualquer outro cão, se a prendesse certamente morreria.
Certa vez, ela trabalhava vendendo seus deliciosos salgados na estação de metrô São Gabriel BH. Observou que nas margens do rio do onça havia um aglomerado de pessoas, inclusive o corpo de bombeiros. Como qualquer pessoa curiosa, guardou seus pertences e foi até lá, mas se surpreendeu ao ver que ao invés de uma pessoa era um cachorro que estava prestes a morrer afogado em cima de uma pedra e os bombeiros não salvaria um cão vira-lata, a não ser que alguém se habilitasse a adotá-lo. Imediatamente ela gritou que queria o pobre cão, mas que iria primeiro em outro lugar pagar uma conta com o dinheiro das vendas de salgados daquele dia. Deu a sua palavra que voltaria para apanhá-lo, deu o numero do telefone e assim fez. Retornando o mais rápido que pôde com muita correria, problemas de saúde e obesidade não foram empecilhos para que mudasse de idéia.
Com muito carinho acariciou o cachorro e por sorte havia sobrado 3 salgados embora ela mesma não tivesse comido nenhum, apesar da ordem médica de comer de três em três horas pela diabete não pensou duas vezes e deu os 3 salgados para o pobre cão que ganhou um nome e um lar. ”Tafaréu”
Depois disso uma cadela pretinha, a visitava todos os dias no ponto de sempre, só para ganhar um salgado, estava viciada, era exatamente igual em todos os dias até que um dia...
Pretinha que a acompanhara até a porta do ônibus não agüentou e ficou olhando com os olhinhos caídos, pedindo ajuda, dona Maria não conseguiu deixa-la para trás e mais uma vez levou um vira-lata para casa com muita satisfação, era como se ela ganhasse um premio.
 Mas para a surpresa de dona Maria, a cadela esperava filhotes.
Com o passar dos dias era a hora de dar a luz, como sofria a pobre cachorrinha e junto com ela sofria dona Maria que por sua vez não agüentou ver a pobrezinha naquela situação a levando imediatamente ao veterinário. Fizeram lhe uma cesariana, foi salvar a vida dos filhotes estavam mortos, porém pretinha se salvou para o alivio de dona Maria.
Que a estas alturas pensava como pagar o veterinário daqui a 30 dias no cartão de terceiros. Para ela o importante era salvar a vida de pretinha em  primeiro lugar, o resto era o resto.
Aliviada por tudo correr bem ela foi para casa, apesar de algumas pessoas descriminarem a sua atitude de fazer uma divida por um cão vira-lata ainda mais, desconhecido.
Para dona Maria, não existia raça de cachorro, existe apenas  ser vivo e pretinha era um deles...
Era mais ou menos sete da noite quando deu alta e trouxeram lhe a cadelinha moribunda com uma faixa na barriga, era cedo para trazerem, mas foi recebida com carinho.
Antes mesmo de meia noite do mesmo dia a pobrezinha morrera para a tristeza de dona Maria que mais uma vez chorou.
Ainda assim não se arrependeu, e mais uma vez fez a sua parte...
Somente dona Maria para nunca negar um prato de comida ou um café a qualquer pessoa, e fazer amizade era com ela mesma.
Mas agora os dias passaram a ser mais escuros, e a noite ganhou um brilho especial com mais uma estrela.
Simplesmente por que dona Maria nos deixou às dezessete horas do dia vinte nove dezembro de 2009.
Para a tristeza de muitos e o total desespero da família, dona Maria que com apenas 55 anos, cumpriu sua meta, fez sua passagem pela terra e fez muito bem feita a sua missão. Plantou somente coisas boas e colheu amor e amizade por lugares espalhados em cada pedacinho do Brasil por onde passou principalmente na cidade natal Ipanema MG...
Estendeu a mão para dividir o pouco que tinha que para ela se tornava muito, tudo dobrava diante do milagre da multiplicação e da boa vontade que vinha de dentro do coração do tamanho do mundo.
 Mas nem tudo está perdido, dona Maria foi escolhida a dedo para fazer parte do jardim celestial. Como a flor faltosa, a dourada em ouro de todos os quilates, que ofuscariam olhos humanos despreparados.
Seu espírito subiu, foi se encontrar com Deus e se juntar as outras rosas douradas, as outras mães...
Lá não existem dores, maus-tratos, discórdia, miséria, ódio, tristeza.
E juntos estão crianças, velhos e adultos.
 Há cães e outros bichos inofensivos correndo por todos os lados.
E lá.
O espaço só é garantido quando se sabe perdoar quantas vezes fosse preciso, como dona Maria...
Corações e corações ficaram partidos naquele dia, lágrimas foram derramadas, era preciso.
Os anjos do céu precisavam da presença de Maria.
O céu chorou com uma chuva forte avassaladora ao mesmo tempo em que o sol brilhou e como num passe de mágica o dia ficou lindo.
Centenas e centenas de amigos acompanharam o cortejo no exato momento em que ela era recebida por milhares de anjos vestidos de branco que a acolheram com o abraço coletivo mais esperado.
E ela sorriu...
E de lá pode ver o quanto cada pessoa era especial para ela, por isso ainda na terra, mesmo com os olhos fechados por dormir e acordar no paraíso tinha um ar puro e sereno. É assim que estava no momento em que chegara aos braços do pai...

Deixou marido, quatro filhos, quatorze netos e bisnetos, dois genros, e duas noras, que a amavam incondicionalmente....
Ela deixou muita saudade

 Mayala Morenna










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