terça-feira, 22 de maio de 2012

Quase Sorte


Quase Sorte

Um mendigo muito assustado ouve o ronco do próprio estômago, coitado, está faminto.
O em seguida olha dentro do chapéu e não vê nada, então resolve mudar de ponto, resmungando em voz alta sozinho; este ponto ta fraco por demais.
As pessoas passam e finge não vê-lo, mas ele não deixa barato e mais uma vez saí resmungando;
_E, e, eu em! Que preconceito com os mendigos, isso me dá uma idéia...
Vou abrir uma associação, AMA: Associação dos Mendigos Anônimos e vou me dar bem, arrecadando merrecas daqui outras dali! Vão pintar esmolas de tudo enquanto é canto, talvez eu até fique RICO! Ops! Me empolguei...
Até que em fim uma gentil senhora lhe deu uma esmola, parece uma nota de dois reais. Que Deus lhe dê em dobro minha senhora, e que a nossa Senhora do bom parto lhe dê uma boa hora viu?
 Ele insistiu em beijar ou babar a mão da pobre velha que tentando sair fora, disse amém varias vezes, meio arrependida de ter parado e saiu com a manga da blusa branca tão suja quanto fedida.
Ela nem se deu conta da frase que lhe falara; “Nossa Senhora do bom parto que lhe dê uma boa hora”.
Ele levantou o chapéu com uma única esmola dentro e agradeceu a Deus, e guardou imediatamente antes que alguém lhe roubasse, afinal, qualquer dinheiro dando sopa ta pela hora da morte. Passou a mão na barriga olhando para a lanchonete mais movimentada em frente.
Na fila, todos olhavam para ele que não se importava com a sujeira e empinava o nariz dizendo que podia pagar com maior sarcasmo. As pessoas não só olhavam para ele e sim para a mão com o dinheiro.
_E, e eu em, só faltava o povo querer assaltar mendigo, este mundo ta perdido!
Mas chegou a sua vez...
_Um pingado e dois pãozinho de queijo no capricho.
_ O senhor não tem trocado?
_ta mangando com a minha cara moça?
Ele olhou para trás para ter certeza de que ela estava mesmo fazendo a pergunta para ele. E esbugalhou os olhos para a nota e pensou rápido...
 A velha deve ter me dado cem reais pensando que eram dois é dia de pagamento de velho, ah, faze o quê, eu mereço.
Passou a mão ajeitando o cabelo, passou saliva no dedo ajeitando as sombracelhas que mais pareciam duas taturanas não melhorou nada, mas disse;
_Suspende o pingado, mudei de idéia...
Dessa vez a moça é quem ficou boquiaberta com a voz galante, o tom e a educação e o pedido, pois se tratava de uma lanchonete que também serviam comida.
_ “Por favor” um salmão grelhado, um arroz branco e uma salada de palmito importado, mas com azeite puríssimo em!  Ah, e não esqueça a minha loura gelada e de sobremesa ambrozia na taça, obrigado. Ah, toma, pode ficar com estas moedas de troco, não gosto de moedas, não sei por quê...
Havia uma fila de pessoas pasmas olhando para ele que nem percebeu.
No mesmo momento um engravatado entrou para comprar algo e ficou surpreso ao ver aquele mendigo. Então ele olhou e olhou, se aproximando e o mendigo se levantou as pressas com um garfo e uma faca na mão para se defender dizendo;
_Se chegar mais perto eu...
Ainda com os talheres nas mãos, desta vez ele é que se aproximou um olhando dentro dos olhos do outro. O povo aos cochichos pensando que rolou um clima, que ambos eram bibas, mas não era bem assim.
_ Você é o João Augusto Magruaian de carvalho e Abuqueque?
falaram juntos o final do sobrenome.
 _È você mesmo, que bom que você apareceu, toda a policia de São Paulo estava a sua procura cara! Como conseguiu escapar vivo?
O pessoal encostou-se apavorados a um canto, com medo de um possível fugitivo da policia e mais do que depressa mesas e cadeiras foram derrubadas numa correria só. Mas, não se lembra?
Um  cliente engravatado comentou com uma mulher.
_Esse tal João de não sei o quê, é um empresário que foi seqüestrado a mais de seis meses e milionário por sinal...
_Por Deus, esta cicatriz deve ser de uma pancada, devo ter perdido a memória Markus, só pode ser... Mas se lembrou do meu nome, da aqui um abraço cara, nossa!
“Você necessita de cuidados urgentes.”
 O tal Markus disfarçou limpando a roupa.
O ex mendigo posudo, empinou o nariz, fechou os olhos, raspou a garganta como um lorde.
Mas foi despertado por uma voz.
“Ô Zé, Zé, acorda Zé, acorda, descolei um rango da hora pra nóis cara!”
O mendigo se levantou rapidamente estapeando o amigo que nada entedia, tentando se defender deixando cair e...
Os pães duros fizeram barulho, pareciam mais pedras que pães.
_você é mesmo louco de pedra cara, eu to fora!
_espera aí, amigo, vai buscar outro pão pra gente, to morrendo de fome! Meu estômago ta nas costas olha só, espera aí!
É, e, eu em!
 Pobre não tem direito nem de sonhar!
 Ô dia, ô vida sô, ô vida!
Texto Mayala Morenna

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